Natal
Dou a conhecer o meu 1º poema, aos 14 anos, escrito no Seminário (Menor) de Santarém, em Maio de 1954 – Concurso de Poesia – 2º Prémio – Tema NATAL
Certa quadra de Natal
Em que andava a passear,
Cheio de amor fraternal
Vi um menino a chorar.
E logo lhe perguntei:
“Que é que tens meu menino”?
Respondendo diz: “não sei”.
Desconheço o meu destino.
Chorava de fome e frio,
Aquele pequeno; coitado!
Repetindo aquele trio,
Que lhe tinham ensinado.
Em forma de tiracol,
Trazia ele a sacola
E com voz de rouxinol,
Dizia:” dai-me uma esmola”.
As cinco e meia soaram,
Na torre daquela aldeia,
As lufas todas pararam
Ao som triste da sereia.
Longa mata ia passar,
Durante sua jornada,
A fim de poder chegar,
À sua casa adorada.
Aquele pobre infeliz,
Lá se meteu ao caminho,
Como a ave ao filho diz:
“Catraio volta p’ró ninho.”
De repente escureceu
Sem aparecer luar
E sobe as nuvens do céu,
Fica o menino a chorar.
À procura do inocente
Caminhei eu noite e dia,
Mas seguindo sempre em frente,
Pelo rumo que trazia.
Encontrei-O a chorar
E logo a chorar me pus,
Depois de tanto o fitar.
Era o MENINO JESUS.
Por entre seus pés e mãos,
Reapareceu nova luz,
Que deixou ver aos Cristãos
Grande Madeiro da CRUZ.
Vitorino Moreira Fernandes (1954)