CAPÍTULO I

AS MINHAS MEMÓRIAS

No Lugar do Eiró, entre as casas do famoso Alfaiate Sr. Almeida e Casa comercial e residência Rês do Chão e 1º Andar do Sr. Manuel da Silva Lopes, junto à Igreja Paroquial da Freguesia de Duas Igrejas, Concelho de Penafiel, Distrito do Porto, às 01H30 de 02 de Fevereiro de 1940, numa casa rústica em granito, de Rés-do-chão e lº. Andar, grande cozinha independente, apenas de rés-do-chão, com forno, lareira em pedra com ‘‘trafogueiro’’, recinto exterior empedrado, onde existia um poço profundo, do qual, durante o ano, se extraía a água necessária para consumo; todo este conjunto fechado por um muro em pedra de 2 metros de altura, com um portal de 2 metros de largura, em madeira, cuja frente estava voltada para o largo do Eiró, Igreja, Adro e começo do caminho da quelha, nasceu um casal de GÉMEOS, que tiveram como parteira a Senhora Isaurinha Martins, tendo sobrevivido apenas o primeiro, a quem deram o nome de VITORINO JOAQUIM DA SILVA MOREIRA FERNANDES e sem perda de tempo, sou levado, pela parteira, que era a (Madrinha da Pia), visto levar à Pia Baptismal, substituindo a Mãe, todos os que nasciam dos partos que assistia, tendo sido Baptizado na Igreja Paroquial de Duas Igrejas pelo Abade da Freguesia, Rvdº. Padre Francisco de Freitas Abreu, em 02/02/1940 e tido como padrinhos os meus Avós Paterno Vitorino Moreira Fernandes e Materna Ana da Silva Rocha, começaram a chamar-me ‘’TININHO’’ mas para ficar mais vincado acrescentavam ‘’DO ERNESTINHO’’, filho de Ernesto Moreira Fernandes, nascido a 30/01/1915 e de Maria Margarida da Silva, nascida a 07/05/1918, descendentes respectivamente da casa da Fonte (Quinta da Fonte) em Duas Igrejas e casa das Devesas (Quinta das Devesas) da Freguesia de Valpedre, onde casaram a 20/05/1938.

Os meus queridos pais e os meus 10 irmãos, 1- Vitorino Moreira Fernandes, 2- Enfermeira Chefe Maria da Conceição Fernandes Nunes, 3- Padre Dr. Manuel Vitorino Moreira Fernandes
Os meus queridos pais e os meus 10 irmãos, 1- Vitorino Moreira Fernandes, 2- Enfermeira Chefe Maria da Conceição Fernandes Nunes, 3- Padre Dr. Manuel Vitorino Moreira Fernandes

Neto Paterno de Vitorino Moreira Fernandes, nascido a 11/03/1887, Falecido a 17/09/1959, (oriundo da Quinta da Casa Nova – Duas Igrejas) e de Ana Mendes da Rocha, nascida a 25/02/1896, Falecida a 08/09/1958 (oriunda da Quinta da Estrada – Stª. Marta), tendo efectuado o seu casamento, na Igreja Paroquial da Freguesia de Duas Igrejas – Penafiel, em 19/11/1914; onde fixaram residência, na Quinta da Fonte, lugar do mesmo nome e aí nasceram mais nove filhos a seguir a meu Pai Ernesto Moreira Fernandes; Maria da Conceição Moreira Mendes (nascida a 29/07/1916, Licenciada em Filologia Romana, fez seus Votos de Consagração às Irmãs do Sagrado Coração de Maria, escolhendo o nome de Religiosa “Maria Tomás de Aquino “ e na Congregação, sendo professora foi também Madre Superiora de diversos Colégios, incluindo uma missão a Moçambique); José Joaquim Mendes Moreira Fernandes; Aires Mendes Moreira Fernandes (nascido a 20/12/1920, Ordenado Sacerdote em 02/08/1947 na Diocese do Porto, celebrando a Missa Nova em Duas Igrejas em l7/08/1947, Abade da Freguesia de Milhundos de 08/1947 a 1952 data em que é nomeado para Felgueiras e dali para Coadjutor do Abade da Freguesia de S. Cosme – Gondomar, posteriormente nomeado em 1957 Capelão das Irmãzinhas dos Pobres do Pinheiro Manso, com as instalações na Rua do mesmo nome – Porto, onde permaneceu até à sua morte 24/01/1991,tendo acumulado funções como Padre Assistente nos Vicentinos, Cursos de Cristandade, Equipas de Casais de Nossa Senhora e Professor no Grande Colégio Universal, coadjuvando também diversos Abades de freguesias nos arredores do Porto; Guiomar Mendes Moreira Fernandes; Carolina Moreira Fernandes; Ana Dulce Mendes Moreira Fernandes (Irmã Maria Goretti, Consagrada Religiosa à Congregação de S. José do Kluny); António Maria Moreira Fernandes; Luciano Moreira Fernandes e Armando Mendes Moreira Fernandes. 

Avózinhos (Paizinhos da Fonte)
Avózinhos (Paizinhos da Fonte)
1- Tio Padre Aires Mendes Moreira Fernandes, 2- Meu Querido Pai Ernesto Moreira Fernandes, 3- Tia, Doutora Maria da Conceição Moreira Mendes, (Madre Maria Tomás de Aquino, Sagrado Coração de Maria, 98 anos 29/07/2014)
1- Tio Padre Aires Mendes Moreira Fernandes, 2- Meu Querido Pai Ernesto Moreira Fernandes, 3- Tia, Doutora Maria da Conceição Moreira Mendes, (Madre Maria Tomás de Aquino, Sagrado Coração de Maria, 98 anos 29/07/2014)
1 - Tia, Ana Dulce Mendes Moreira Fernandes, (Irmã Maria Goretti, Consagrada Religiosa à Congregação S. José do Kluny); 2 - Tia, Doutora Maria da Conceição Moreira Mendes, (Madre Maria Tomás de Aquino, Sagrado Coração de Maria, 98 anos 29/07/2014)
Tio, Padre Aires Mendes Moreira Fernandes
Tio, Padre Aires Mendes Moreira Fernandes

Bisneto Paterno de Joaquim Mendes Fernandes, nascido a 02/08/1844, (oriundo da Quinta de Figueiredo, no lugar do mesmo nome de Rio de Moinhos – Penafiel e de Ana Mendes de Seabra, nascida em 1854, (oriunda da Quinta da Casa Nova) – da Freguesia de Duas Igrejas, onde casaram a 16/05/1880; António Joaquim Mendes Ferreira, nascido em 1865, (oriundo da Quinta da Estrada) – Stª. Marta e de Guiomar da Rocha Gomes, nascida em l865, (oriunda da Quinta do Outeiro) lugar do mesmo nome da Freguesia de Duas Igrejas, tendo efectuado o seu casamento na Igreja Paroquial de Stª. Marta – Penafiel em 09/09/1893.

 

Trineto Paterno de Francisco Moreira Fernandes, (oriundo da Quinta de Figueiredo, no lugar do mesmo nome da Freguesia de Rio de Moinhos – Penafiel e de Maria Joaquina da Rocha (oriunda da Quinta da Ribeira, no lugar do mesmo nome), da Freguesia de Galegos – Penafiel; Vitorino Lourenço (oriundo da Quinta de Perafita, no Lugar do mesmo nome, em Duas Igrejas e Maria Ana (oriunda da Família Seabra da Freguesia de Vila Cova); José da Rocha Gomes (oriundo da Quinta do Outeiro, no Lugar do mesmo nome de Duas Igrejas) e Maria Gomes, nascida em 1849, (oriunda de Castanheira de Baixo – Duas Igrejas; Sebastião Mendes Ferreira (oriundo da Quinta da Estrada) – Stª. Marta e Ana Joaquina, natural de S. Martinho de Recezinhos – Penafiel, tendo efectuado o seu casamento, na Igreja Paroquial de Stª. Marta em 05/05/1864.

 

Neto Materno de Joaquim José Soares da Rocha, nascido a 01/03/1858, Falecido em 00/00/1937 (oriundo da Quinta das Devesas), Lugar do mesmo nome da Freguesia de Valpedre e Ana da Silva Rocha, nascida a 21/05/1883, Falecida a 08/03/1962 (oriunda da família Lourenço da Quinta do Cerrado) lugar do Padrão – Duas Igrejas – Penafiel, contraíram matrimónio em Penafiel na data de 04/03/1905, fixando residência, na própria Quinta das Devesas e onde nasceram cinco filhos José Soares da Rocha a 20/05/1908, Ordenado Sacerdote na Diocese do Porto, celebrando a Missa Nova na Igreja de Valpedre, pela mesma Diocese foi enviado para Roma, onde se Licenciou no Instituto de Ciências Sociais de Bergamo em Sociologia e na Universidade Gregoriana em Direito Canónico. Tendo regressado, foi enviado para a Diocese do Patriarcado em Lisboa, onde teve como missão o lançamento da JUVENTUDE OPERÁRIA CATÓLICA (J. 0. C.), e após ter finalizado, o Padre Dr. José Soares da Rocha regressa à sua Diocese de origem, tendo sido promovido a Cónego e colocado como Reitor da Igreja dos Congregados e Professor no Seminário da Sé, sendo Reitor o Cónego Ferreira Pinto e Vice-Reitor o Cónego Sebastião Soares Resende que após ter sido Sagrado Bispo é enviado para a Beira em Moçambique em 1943, vaga que é preenchida pelo Cónego Dr. José Soares da Rocha, por nomeação do Bispo do Porto D. Agostinho de Sousa, que muito o apreciava. Após o falecimento do Cónego Ferreira Pinto a 08/04/1949, o Cónego Dr. Soares da Rocha passou a ser o reitor em exercício, até altura da Páscoa (Março/ Abril) 1953, data em que se isolou, na mesma quinta onde nasceu e lhe calhou por herança, com uma perseguição cerrada de D. António Ferreira Gomes, tendo-o levado ao seu falecimento inesperado a 27/05/1957 (Voz Portucalense de 23 de Novembro de 1989, Especial Pag. 7 – Para um Álbum Diocesano – Soares da Rocha); Maria da Conceição Silva da Rocha nascida a 26/09/1909, Baptizada a 29/09/1909, falecida em 17/03/2001; Maria da Conceição Silva nascida a 28/04/1914; Maria Margarida da Silva (m/ Querida Mãe) nascida a 07/05/1918, Baptizada a 08/05/1918, Falecida a 25/03/1997 e Manuel Soares da Rocha nascido a 27/11/1919, Engenheiro Agrónomo, Licenciado pela Faculdade de Agronomia do Porto; um dos seus excelentes trabalhos, para a tese de Doutoramento, é o plano de regadio do Funchal na década de quarenta, prestando todo o tempo de serviço no Instituto Agronómico de Oeiras, até passar à situação de Aposentado.

Ana da Silva Rocha – Joaquim José Soares da Rocha (Avozinhos de Valpedre – Quinta das Devesas)
Ana da Silva Rocha – Joaquim José Soares da Rocha (Avozinhos de Valpedre – Quinta das Devesas)
Tio Materno, Cónego Dr. José Soares da Rocha, Ex Reitor do Seminario da Sé do Porto
Tio Materno, Cónego Dr. José Soares da Rocha, Ex Reitor do Seminario da Sé do Porto

Bisneto Materno de Joaquim José Soares da Rocha (oriundo da Quinta das Devesas) do Lugar do mesmo nome – Valpedre e Maria Joaquina Vieira (oriunda do lugar de Cimo de Vila), da Freguesia de Valpedre, onde contraíram matrimónio em 08/11/1842; Vitorino Lourenço, nascido a 02/12/1847 (oriundo da Quinta do Cerrado) lugar do Padrão – Duas Igrejas – Penafiel e Maria da Silva, nascida a 20/08/1857 (oriunda da Quinta de Sá, no lugar do mesmo nome) Freguesia de Luzim – Penafiel, tendo efectuado o seu matrimónio em Vila Cova de Vez de Avis – Penafiel em 23/08/1883.

 

OBS: O meu Avó materno Joaquim José Soares da Rocha, nascido a 01/03/1858, namorou com a minha Bisavô materna Maria da Silva, nascida a 20/08/1857, não tendo havido casamento, contrariando a vontade dos Pais oriundos de Luzim, que a deserdaram; mas o meu Avó não desistiu e esperou que a minha Avó Ana da Silva Rocha, nascida a 2l/05/1883 crescesse, para vir casar com ela a 04/03/1905, (namorou com a Mãe e veio a casar com a filha).

 

Trineto Materno de José Soares da Rocha e Ana Maria, naturais do lugar das Devesas (Quinta das Devesas), – Valpedre – Penafiel; Luís Soares Vieira e Rosária ou Rosalina Maria, naturais do lugar de Cimo de Vila – Valpedre – Penafiel; António Lourenço da Rocha e Maria Mendes Moreira, naturais de Duas Igrejas – Penafiel; José da Silva Gomes e Ana da Silva Rocha, naturais do Lugar de Sá (Quinta de Sá) – Freguesia de Luzim – Penafiel.

 

Minha Querida Mãe foi criada e educada, na Quinta do Cerrado, de seus Avós Maternos, no Lugar do Padrão de Duas Igrejas – Penafiel e quando casou levou para junto de si a Avó, (minha Bisavó, já viuva), a quem acarinhou e tratou até à morte, tendo recebido como recompensa parte do terreno que compõe hoje a quinta da Ribeira, Lugar do Padrão de Duas Igrejas, onde meus Pais começaram a construir um prédio em granito e rústico de Rés-do-chão e 1º Andar, no início do ano de l944, casa que tem como logradouro, toda a área da Quinta.

 

Fui criado, até aos 6 anos de idade, na casa onde nasci, lugar do Eiró, juntamente com os meus irmãos MARIA DA CONCEIÇÃO DA SILVA FERNANDES, nascida a 13/10/1938 (a mais velha), e nascidos posteriormente a mim, MANUEL VITORINO DA SILVA MOREIRA FERNANDES nascido a 27/06/1941, MARIA LUCIANA DA SILVA MOREIRA FERNANDES nascida a 15/09/1943, JOSÉ LUCIANO DA SILVA MOREORA FERNANDES nascido a 10/05/1945, onde havia uma casa cheia, além de Pais e Filhos, Bisavó Materna, que apenas durou 3 anos após o casamento de meus Pais, nossa querida ama Maria Ferreira a quem tratávamos por Senhora Marquinhas Ferreira, um Exemplo, uma Santidade, já a conheci uma pessoa de idade, embora pobre, uma riqueza moral e espiritual, indescritíveis, amada, acarinhada por toda a gente; e o Senhor Adão Tereso (tratado por Sr. Adão Tareso) que também já comecei a conhecer como uma pessoa idosa, e nenhuma relação de parentesco o ligava à nossa querida e inesquecível Marquinhas Ferreira; também nos foi marcando com o seu exemplo e carinho.

Durante os 6 anos de residência no Lugar do Eiró, onde aprendi a gatinhar, andar e a fazer todas as espécies de traquinices, comecei a ficar marcado pela ligação aos amigos de meus Pais, que nos rodeavam e passei a frequentar mais amiudadamente quando sentia aumentar o carinho e amor, cada dia, mês, ano que avançava em idade.

Do lado direito da minha casa, eram as residências, (cujas frentes estavam voltadas para o quintal do Sr. Abade Pe. Abreu e Caminho da Quelha), do Senhor Almeida, viúvo, alfaiate, frequentador e orientador assíduo de todas as actividades religiosas e sua irmã Matilde; Senhor Ernesto, Esposa Deolindinha e a Sobrinha Deolinda, casa da quelha, com rês do chão e 1º. Andar, onde ocupavam apenas uma parte e a outra era alugada à Professora Primária Dª. Sara que com um sobrinho aí fazia toda a sua vida e uma cozinha lateral de Rês do chão, com um grande quinteiro murado, coberto por uma ramada com entrada por um portão de ferro e rede, existindo por detrás desta casa um pequeno quintal que nos pertencia, onde eram semeados e plantados os mimos para nosso consumo e onde havia uma grande figueira de figos “ vacorinhos”; do lado esquerdo num Rês do chão e 1º. Andar, com a frente voltada para a Igreja, Adro e Largo do Eiró, com um grande portão em ferro e chapa, junto à nossa casa, que dava por túnel, ao logradouro traseiro, onde existiam armazéns e enorme cozinha de rês do chão, o Senhor Manuel da Silva Lopes, solteirão à data, conhecido por Manuelzinho S. Jorge, dedicadíssimo a todas as actividades Apostólicas, vivia com os Pais, conhecida família S. Jorge que tinham loja mista de mercearia e tecidos no Rês do Chão e residência no 1º. Andar; logo a seguir, um casarão antigo, no Rês do Chão a loja (mercearia e taberna) mais recheada e frequentada da freguesia, no 1º. Andar é a residência, do Senhor Martins, esposa Senhora Aninhas e filha Lolinha, frente total da casa voltada para o largo do Eiró, início da estrada que liga à principal de Rans, passando pela Escola, Antas, tapada das árvores, Cimo de Vila, Pinheiro, Fundo da Freguesia, Quessus e Lebres, existindo entre as casas (S. Jorge e Martins) uma entrada que nos conduz a um logradouro e Armazéns traseiros; casa de Rês do Chão coberta a colmo com a frente voltada para a estrada para Cimo de vila, onde viviam Senhor Evaristo, Esposa, filho Zeca Martins (solteirão, que também dedicava um pouco do seu tempo ao serviço da Igreja, envergando uma opa branca recebia, com uma caixa toda fechada e uma ranhura, os donativos em dinheiro, na ocasião do ofertório das missas dominicais, leiloando também do alto da parede do adro da Igreja os donativos materiais, ofertas para cumprimento de promessas aos diversos Santos) e neto Evaristo da minha idade, família que se dedicava à agricultura e nas horas vagas, ao trabalho artesanal de calçado e piões em madeira, não tendo mãos a medir para satisfazer as encomendas; casa de lavoura de Rês do Chão, cortes para o gado bovino, loja para arrumos e 1º. Andar, residência, com grande logradouro (quinteiro) seguido de uns grandes quintais, vinha e pomar, com a frente voltada para a estrada do Eiró, residia o Senhor José da Silva Lopes, (solteirão à data) conhecido por Zézinho S. Jorge, Proprietário agricultor e correspondente do Jornal Penafidelense, assinava os seus artigos por (José AVLIS SEPOL), homem típico e muito controverso; na esquina desta casa tem início o caminho para o lugar de Vila Verde onde, do lado direito, existia uma casa em granito de Rês do Chão e 1º. Andar, coberta a colmo e ainda pela ramagem de uma enorme árvore (Lódo), diziam ser centenária, no Rês do chão eram cortes para gado bovino e no 1º. Andar, com acesso por uma escadaria em granito, com um pátio coberto, no cimo, onde era guardada toda a erva e palha seca, para alimentar os animais e logo a seguir uma porta, com as tábuas quase a cair, dava para um soalho em madeira, com um corredor, onde do lado direito existia uma dependência toda em madeira e ao fundo um pequeno recinto, onde estava colocada uma pedra rectangular que servia de lareira e um ”trafogueiro”, era a pequena cozinha, com uma preguiceira e um banco pequenito, uma espécie de armário onde ao alto se via um prato e uma malga, era esta a residência da Senhora Maria Ferreira, a nossa querida ama Marquinhas Ferreira, que desde o início e para sempre lembro com saudade; quem entrava naquele simplicíssimo quarto, todo ele forrado com imagens de Santos, Nossa Senhora e Sagrado Coração de Jesus era um oratório como nunca vi e neste pequeno espaço, com o mínimo de condições havia o máximo de limpeza e uma ordenação invulgar, um lugar onde, desde criança, me sentia maravilhosamente bem e sossegado.

Logo a seguir à casa do Sr. Manuelzinho Fiandeiro (Manuel Cruz) onde vivia a Senhora (Santa) Marquinhas Ferreira começa o caminho que dá para o Lugares de Quintela, Portela, Fonte (Quintas da Fonte e Fonte de Cima de meus Avós Paternos); logo no início do caminho do lado esquerdo existia um casarão de rês do chão e 1º andar com grande quinteiro e quintal, tudo murado em pedra e vedado com rede e uns grandes portões de entrada, onde vivia a Senhora Dona Rosa, professora Primária Reformada muito velhinha de quem tenho uma vaga ideia e a comparava sempre àquela figura típica do meu primeiro livro da 1ª classe 1946/47, com a vassoura na mão a varrer, na página onde estava a letra “ X “ e com o gesto de enxotar as galinhas, aplicando a expressão “ Xó “, para aprendermos o “X”, mas quando a via, ao portão, tinha medo e fugia, pois ouvia dizer que ela tinha a casa cheia de miúdos e os desfazia para fazer rapé, substância que ela, por sinal, muito utilizava.

O meu mundo, até aos 6 anos, resumia-se à convivência com a miudagem, mais ou menos da minha idade dos Lugares do Eiró, Cruzeiro, Vila Verde, Quintela, Portela, Fonte e Antas, mas sempre repreendido com castigos nada meigos, quando não acatava as proibições que me eram impostas pelos meus Pais.

Existe uma estrada a principal que tem o seu começo no Jardim do Sámeiro de Penafiel, passa pela Freguesia de Milhundos, Freguesia de Duas Igrejas (Castanheira de Baixo, Presa da Lama, desnatadeira ou posto receptor de leite, entrada à direita para o Padrão, Quinta do Cerrado e Cruzeiro; seguindo a principal curva das Cesteiras com entrada à esquerda para o Lugar de Castanheira de Cima, cruzamento na “ Maria Rosa “ à esquerda para o Lugar do Outeiro e à direita começo da estrada que liga Duas Igrejas a Rans, passando pelo Lugar do Cruzeiro, Cemitério, Largo do Cemitério, Adro, Largo do Eiró, Escola Primária das Antas, Tapada das Árvores, Lugares de Cimo de Vila, Pinheiro, Quessus, Lebres, continuando no seguimento da Estrada Principal temos o cruzamento na “ casa do Maneca “ à direita liga Duas Igrejas à Freguesia de Perozelo, passando pelo Lugar da Presa, Tapada do Vilar, Quinta do Tapado, bifurcação à direita para Rans e seguindo em frente Perozelo, se continuarmos pela principal passamos pela Presa do Linho, desvios à direita para as pedreiras nos montes e tapadas da Lagoa e Talegre, Lugar de Perafita), Freguesia de Vila Cova, Freguesia de Abragão, etc.

A Igreja de Duas Igrejas é lindíssima, o Padroeiro da Freguesia é Stº. Adrião e a festa anual, cognominada “Festa da Sopa – Seca” é a de Nossa Senhora do Rosário, sempre no 1º. Domingo de Outubro, estando circundada por um grande Adro a toda a volta, a Norte fica o largo do Cemitério e residência do Senhor Abade Padre Abreu que vivia com sua irmã Dª. Maria de Freitas Abreu e tinha como criada a Senhora Júlia (Julinha) e jornaleiro o Senhor Tito, conhecido por Tito do Abade, um casarão antigo de Rês do Chão, onde existia um lagar, prensa, garrafeira, salgadeira, armazém para arrumos de lenha e outras coisas, uma corte para criação de porcos (leitões e engorda) e 1º. Andar com o soalho e teto todo em madeira e as divisórias em tabique, com 3 quartos, escritório ou cartório, uma grande sala de jantar, uma enorme cozinha com forno de quatro alqueires, grande fogão a lenha, uma grande varanda, com quarto de vasos onde no topo da entrada existia uma casa de banho com assento em madeira, abertura redonda com tampa amovível, onde se encontrava uma bacia oval em chapa de + ou – 1,5 m de comprimento por mais ou menos 0,70 m de largura, também amovível que servia de banheira e nas traseiras um grande quinteiro todo murado com grandes pedras de granito com entrada, por uma cancela em madeira de 3 metros de largura por 2 de altura na parte nascente do largo do cemitério de fronte da casa das cantoneiras e outra entrada por um portão grande em madeira, com os gonzos cravados no resto da parede da casa demolida dos cortiços das abelhas, virado para o caminho da Quelha de fronte para a nossa casa, coberto com uma rica ramada, servindo para armazenar o mato para as cortes dos porcos, que aí soltos, à vontade, rebolavam-se na terra; bem como um grande capoeiro com bastantes galináceos; uma área razoável de quintal, bem avinhado, afrutado, com todos os produtos hortícolas e uma estufa, junto ao poço, para vasos de plantas ornamentais de toda a qualidade, um luxo, esta área confrontava com a parede do cemitério a Norte um pouco do Adro a Nascente e caminho da Quelha e campos de Vila Verde; na parte poente da Igreja a seguir ao Adro fica a estrada que vem do cruzamento da “ Maria Rosa”, passa pelo largo do Cemitério e tem do lado direito uma grande parede em granito vedação do cerrado das Tias Sofiinha e Carolininha da Casa Nova de que eram caseiros o Casal Munuelzinho e Gertrudinhas Cantante e terminava em frente ao largo do Eiró seguido dum casario com quinteiro ao centro coberto por uma ramada de uvas de mesa, do lado direito ficava um rês do chão e 1º Andar, cujas traseiras terminavam com um terraço, cobertura de uma garagem onde era guardado o coche e do lado esquerdo era apenas um rês do chão a todo o comprimento do outro dividido em duas partes uma cozinha com forno, lareira, “trafogueiro” e a outra era a corte do gado bovino, o 1º Andar era reservado às Tias e Familiares da Casa Nova, para aí passarem alguns dias ou pernoitarem nas vésperas de Domingos, dias Santificados ou celebrações de Missas, por alma de Familiares falecidos; sendo a rês do chão a residência dos caseiros, a frente do casario unido por um alto muro em granito, com entrada para o recinto do quinteiro, por um grande portão e por uma porta lateral mais pequena para serviço permanente, ficava defronte ao casarão do Sr. Martins, casa do Sr. Evaristo e Zézinho S. Jorge.

 

A NOSSA CASA MÃE CONSTRUIDA DE RAIZ

Mal a casa que meus Pais começaram a construir de raiz, na sua quinta da Ribeira no Lugar do Padrão, em l944, começou a oferecer condições de habitabilidade, na Páscoa de 1946, Pais e cinco filhos nascidos na casa do Eiró mudamos para lá, debaixo de uma alegria indescritível, por não haver muros limitativos, nem área definida para brincarmos, uns hectares por nossa conta.

A 1ª dos outros cinco nascimentos, na nossa nova casa, foi m/irmã ANA DULCE DA SILVA MOREIRA FERNANDES a 18 de Novembro de 1946, seguida de JOAUIM JOSÉ DA SILVA MOREIRA FERNANDES a 5 de Setembro de 1948, ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA MOREIRA FERNANDES a 22 de Outubro de 1950, CARLOS DA SILVA MOREIRA FERNANDES a 8 de Março de 1952 e ARMANDO JOSÉ DA SILVA MOREIRA FERNANDES a 28 de Junho de 1954.

 

INICIAÇÃO ESCOLAR OFICIAL

Apesar de já aos 5 anos ir todo satisfeito, para a escola Primária, acompanhando a Sra. Professora D. Sara que vivia ao nosso lado na casa do Eiró, a minha entrada oficialmente em Outubro de 1946, de sacola às costas levando um livro da 1ª classe, uma lousa (ardósia) encaixilhada em madeira e uma pena de ardósia, na Escola Primária de Duas Igrejas – Penafiel, onde fiz a 1ª Classe 1946/1947, 2ª Classe 1947/1948 e 3ª Classe 1948/1949, com uma perna às costas.

Tornei-me um revolucionário dentro da Escola e todos tinham de me obedecer, mesmo os mais velhos, a atingida era sempre a bondosa da Senhora Professora D. Sara, com indisciplina constante, fazendo as maiores judiarias, mas em casa pagava sempre bem caro, com tareias atrás de tareias, visto meus Queridos Pais andarem constantemente em cima dos acontecimentos.

 

DISTRIBUIR PELOS MAIS NECESSITADOS

Em casa de meus Pais, grandes proprietários agricultores, muitos filhos e pessoal de serviço com alimentação, nunca faltou, graças a Deus, nos tempos mais difíceis, anos de 1940 (2ª grande guerra), pão de milho com abundância, um (1) trigo (molete) a cada filho por dia, leite com abundância e queijo de 2ª escolha a um preço baixíssimo, uma regalia extraordinária a que meus Pais tinham direito da Sociedade de Lacticínios de Valpedre, Lda. – Penafiel, um panelão de (sopa) caldo enriquecido com bastante batata, feijão seco ou grão, um cheirinho de arroz ou massa, bastante hortaliça variada, adubada com pingue dos rojões ou carne de porco gorda dos 2 (dois) porcos criados em casa, que se matavam anualmente, devidamente talhados eram preparados ou para o fumo (fumeiro) ou para a salgadeira, substituta do frigorífico, à data, vinho verde tinto não faltava para os trabalhadores e água ou leite para os filhos; bacalhau da Noruega que era barato; sardinhas, chicharros do sardinheiro; galos, galinhas, coelhos e borregos caseiros e aos domingos de longe a longe um bocado de carne de vaca de cozer.

A classe trabalhadora de todas as profissões estava instalada no lugar do CRUZEIRO, o mais problemático e daí saiam para os diversos trabalhos, propriedades agrícolas que eram de meia dúzia de pessoas quase todos familiares, incluindo as nossas de Duas Igrejas, Valpedre, Abragão, Vila Cova e Canelas; pedreiras em grande número, cujos terrenos eram dos mesmos proprietários que as alugavam à exploração, para extracção e preparação da pedra que era vendida por uma bagatela, para as necessidades Portuguesas e muito mais tarde, para exportação; oficinas de automóveis em Penafiel, onde havia o ramo de mecânica, bate-chapas, pintura, serralharia, etc..

Reinava muita miséria nos lares e os mais atingidos eram os miúdos da minha idade, ficava chocado e o que pudesse tirar em casa escondia no meio dos campos ou nas suas bordas, convidando num dia uns e no seguinte outros, para comerem o que levava.

Era uma época de muita procura do chamado dente de cão, nem mais nem menos o grão feito e quase seco, com bolor, na espiga de centeio, que se destinava à feitura da penicilina e se pagava muito bem, para nós miúdos, 1$00 a grama e para se apanhar 20 a 30 gramas, tinha-se de percorrer um campo com + ou – 5.000 m2, ficando o centeio todo tombado no chão causando, um prejuízo a que não dávamos qualquer valor.

O dinheiro realizado era para comprar sandes de trigo (molete) com marmelada e queijo um maço de cigarros (pedreiros) e uma caixa de fósforos para no final fumarmos todos. 

Quando chegava a casa já lá estava a queixa do proprietário(a), ou não tardava a chegar e a recompensa era sempre a velha tareia, mas o bichinho estava de tal maneira entranhado que custou a passar, ainda hoje sou lembrado com carinho quando vou à terra, por todos os da minha idade e os mais velhos e sempre foi assim, desde que me conheço.

 

MUDANÇA DE ESCOLA PRIMÁRIA PARA OUTRA FREGUESIA

Meu Tio Paterno Pe. Aires Mendes Moreira Fernandes, após a Missa Nova a l7 de Agosto de 1947, foi colocado como Abade da Freguesia de Milhundos – Penafiel, fazendo confrontação com a minha freguesia, ao saber das minhas travessuras, falou com os meus Pais e levou-me para sua casa, matriculando-me na Escola Primária de Milhundos, tendo como Professor o Sr. Joaquim Ribeiro, muito exigente e severo, Residente no Largo da Ajuda – Penafiel, onde fiz a 4ª Classe 1949/1950 e preparação para o Exame de Admissão no Liceu Nacional de Guimarães l950/1951.

Depois dos avisos constantes do Senhor Professor Ribeiro e do meu Próprio Tio Pe. Aires, que substituía o Senhor Professor amiudadas vezes, de que eu não estava na Escola de Duas Igrejas, pagava com pancada que lavava, as asneiras que fiz, vezes sem conta.

Hora sagrada a minha transferência.

 

COLÉGIO ANTERO QUENTAL – PAREDES

Após ter feito o Exame de Amissão no Liceu Nacional de Guimarães em Junho de 1951 fui matriculado no 1º ano 1951/1952, Colégio Antero Quental em Paredes.

 

INGRESSO NO SEMINÁRIO MENOR DE SANTARÉM

Nª. SENHORA DA CONCEIÇÃO DIOCESE DO PATRIARCADO DE LISBOA

Em Outubro de l952 ingressei no Seminário de Santarém, tendo sido transferido para o SEMINÁRIO MÉDIO DE S. PAULO DE ALMADA em Outubro de 1956, tendo abandonado, por opção, em Abril de 1957.

COLÉGIO DE Nª. SENHORA DO CARMO – PENAFIEL

Após ter saído do Seminário de S. Paulo de Almada e como não havia equivalência aos anos de Seminário tive de ir fazer o 1º Ciclo Liceal, proposto pelo Colégio do Carmo de Penafiel, no Liceu Nacional de Guimarães em Junho de 1957.

 

POSTO DE RECEPÇÃO DE LEITE – em DUAS IGREJAS da SOCIEDADE DE LACTICÍNIOS DE VALPEDRE, Lda.

Os direitos do Posto de Recepção de Leite em Duas Igrejas eram pertença de meu Avô Paterno Vitorino Moreira Fernandes, funcionando na sua Quinta da Fonte, tendo sido cedidos à Sociedade de Lacticínios de Valpedre, Lda., e uma das condições era o meu Pai ficar como Funcionário Responsável do Posto, com um vencimento fixo e abono de família para cada filho, tendo sido aceite tal proposta.

Foi aqui que meu Querido Pai começou por fazer de mim alguém, ainda como criança, abrir as portas às 7 horas da manhã, fazer a medição do leite que os clientes traziam e apontar no mapa diário as quantidades, encher as bilhas de 50 litros/cada, no Inverno e Verão menos leite, devido à falta de pastagens; Primavera e Outono quase o dobro do leite, pela grande quantidade de pastagens, preparar as bilhas cheias selando-as com um fio que passando pelo meio dum chumbo que era esmagado com um alicate próprio, para de seguida serem transportadas num carro de uma só vaca, com destino ao JARDIM DO SAMEIRO de Penafiel e ser carregado num camião próprio da Fábrica que fazia a recolha, nas localidades indicadas.

Ficava apenas o leite necessário que era depois desnatado por uma centrifugadora, extracção da nata para uma bilha, que depois de cheia e lacrada seguia o mesmo destino das bilhas de leite, para posterior feitura de manteiga, etc., e o soro para o outro lado a fim de ser vendido aos clientes para criar animais pequenos ou engorda e até para seres humanos, mas tinham vergonha e diziam que era para os porcos.

No fim do mês tinha de fazer as somas na horizontal e perpendicular, os mapas tinham de dar entrada na contabilidade da Fábrica até às 10h00 do dia 2 de cada mês, para de 8 a 10 vir o dinheiro na totalidade e depois pagarmos aos fornecedores no dia seguinte ao recebimento.

Ai de mim que as contas não estivessem certas, após a conferência dos mapas pelo meu Querido Pai, estava feito num oito.

Este trabalho foi um incentivo para eu vir a gostar imenso da matemática, que estudei e vou estudando pela vida fora.

 

TAMBÉM FOI AQUI QUE 8 a 10 ANOS MAIS TARDE quando saí do Seminário com 17 anos de idade, tomando novamente conta do Posto de Recepção de Leite, substituindo meu Querido Pai que se encontrava bastante doente, me apaixonei profundamente por uma Senhora linda, um pedaço de mulher, fazia parar o trânsito, mais velha que eu 14 ou 15 anos e Mãe de 3 filhos pequenos, que o marido ao ter ido para o Brasil, a veio a abandonar, assim como aos filhos, uns cinco ou 6 anos antes, tendo falecido pouco depois, mal eu sonhava vir ter relações apaixonantes, era a funcionária que desnatava o leite e fazia toda a limpeza no Posto.

 

Foi principalmente este caso, que precipitou a minha ida, o mais depressa possível, para Luanda-ANGOLA.

 

 

AGRICULTURA

Meus Queridos Pais eram abastados proprietários agrícolas, meu Pai sempre fez questão, principalmente eu, que sou o mais velho de 7 rapazes, acompanhar criados e jornaleiros e inteirar-me de tudo que eles faziam, podia fazer pouco, mas o que me desse para fazer tinha de aparecer feito, nunca me faltando com nada que lhe pedia, era o meu confidente e na hora que eu mais precisei, a minha ida urgente para Angola, esteve sempre a meu lado.

Estes ensinamentos têm-me sido úteis pela vida fora, nos hectares de terreno em Angola, terrenos que herdei de meus Queridos Pais e terrenos de minha mulher actual, desde 28 de Outubro de 1987, Maria Lisete da Silva Moreira   Fernandes.

Tratamentos da terra, vinhas e árvores de fruta, produtos hortícolas, plantações, sementeiras, podas, colheitas, tratamento do vinho e seu engarrafamento, etc.

Tratar e criar animais, abatê-los quando necessário, como tratar a sua carne, para ser guardada nas suas diversas formas e sua confecção, sendo a culinária um dos meus “obis” preferidos.